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Precisamos falar sobre a cultura do estupro

Oi gente,

Eu tenho uma lista de assuntos sobre os quais quero escrever por aqui (e eu atualizo pouco não é por falta de ideias nem de tempo, mas falta de disciplina e organização), mas às vezes surge alguma coisa que não dá pra deixar pra lá. E foi isso que aconteceu.

Quarta feira eu fiquei sabendo do vídeo vazado do estupro coletivo. Muito antes da mídia anunciar, diversas páginas feministas já estavam divulgando nomes e pedindo para ajudarmos a denunciar. O feriado inteiro meu feed do Facebook ficou tomado de notícias e reflexões sobre o assunto. Confesso que não foi um feriado fácil pra maioria das mulheres que conheço e uma coisa ficou bem clara, precisamos falar sobre cultura do estupro.

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Mulher, um objeto a ser consumido, assim como a cerveja

Fica bem claro que vivemos em uma cultura do estupro quando as meninas, ainda criança, aprendem que é normal o menino tentar levantar sua saia, quando reforçamos pros meninos que eles precisam ser garanhões, que podem roubar um beijo da amiguinha, que quanto mais namoradinhas ele tiver, melhor, que quando um menino bate em uma menina é porque gosta dela, que o menino quando crescer vai “pegar todas” e a menina “vai dar trabalho”, quando dizemos “prendam suas cabras que meu bode está solto” ou que pai de menina “passa de consumidor a fornecedor”.

Enaltecemos a cultura do estupro quando ensinamos para as meninas que não devem ser assertivas, que devem fazer charminho ou cu doce, e aí deslegitimamos o “não” das mulheres, e também quando ensinamos os meninos que não devem desistir no primeiro “não”, que devem insistir sempre, quando ensinamos que o papel do homem é “avançar o sinal”, “forçar a barra” e o da mulher de “travar”, quando falamos do instinto masculino e de sua necessidade de sexo e ensinamos que as mulheres devem tomar cuidado ou que usando certa roupa, tendo certo comportamento, estando em certo lugar, andando com certas pessoas, tendo certas atitudes “está pedindo” ou “mereceu”, ou que não devem dizer “não” a seus namorados, já que “se não tiver em casa, ele vai procurar na rua”, ou que “o homem não sabe por que bate, mas a mulher sabe por que apanha”, ou “em briga de marido e mulher, não se mete a colher” naturalizando a violência.

Incentivamos a cultura do estupro quando achamos normais propagandas que objetificam as mulheres como se fossem produtos ou reforçam a ideia do homem usando a força sobre a mulher, quando a imagem da mulher só importa se estiver a serviço do homem, se for bela, quando a sexualidade da mulher está sempre voltada a agradar os homens, nunca preocupada com o prazer da mulher, quando desumanizamos estupradores e os comparamos com monstros ou vermes, quando na verdade são apenas homens, quando dizemos que esses mesmos estupradores “viram mulher” na cadeia, reforçando que ser mulher é ser violentada.

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Apologia bem clara ao estupro, a propaganda a serviço dessa cultura

Estimulamos a cultura do estupro com a indústria pornográfica que só foca no prazer masculino, onde a violência é banalizada, o sexo bom é o “selvagem” que “mete com força”, “arromba” e chama de puta, onde mulher é tratada como objeto, humilhada e tem mais é que gostar, porque isso é ser livre, é não ser puritana, quando achamos ok homens comprarem sexo e fazerem o que quiserem com mulheres, já que estão pagando.

Incitamos a cultura do estupro cada vez que mulheres são vistas apenas como objetos que servem apenas para sexo e o prazer masculino, cada vez que estudamos, lemos, assistimos e valorizamos apenas homens e deixamos mulheres como seres humanos de segunda categoria (ou o segundo sexo, como bem colocou Simone de Beauvoir).

Precisamos discutir sobre cultura do estupro, precisamos conversar com as crianças, com os adolescentes, com nossos alunos, filhos, sobrinhos e amigos. Precisamos apoiar outras mulheres, precisamos nos unir, nos ouvir.

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Beijos

 

Vale a pena #1

Oi gente,

Decidi inaugurar essa nova seção aqui no blog, a Vale a pena.

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Eu sempre entro em um monte de sites, blogs, links e assisto á vídeos e várias vezes gosto tanto do que vejo/ leio que fico com vontade de mostrar pra todo mundo. Nesse tipo de post vou fazer exatamente isso, mostrar um pouco do que eu vi e acho que vale a pena vocês verem também. Não vai ter data certa, quando eu reunir alguns links que eu acho que valem a pena, vou postar aqui.

  1. Eu gosto muito desse canal de forma geral, mas esse vídeo em especial é muito bom. É meio antigo, do início do ano, mas vale a pena. É uma reflexão sobre os privilégios que temos na sociedade. Muitas vezes nos acostumamos tanto com a posição privilegiada que nem questionamos mais. Mas é importante sempre lembrar em que momentos somos sim opressores e o que podemos fazer quanto a isso.

  1. Eu falei um pouco sobre transexualidade há algum tempo, mas não sou transgênera, então, embora seja uma luta que eu apoie, não é minha luta. Nesse vídeo a Paula conta um pouco sobre ela e sobre coisas que não devemos dizer às trans. Ela tem também outros vídeos falando sobre preconceito, vlogs, reflexões…

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  1. Esse texto é maravilhoso, sobre relacionamento abusivo. Ele trata principalmente sobre as violências mais veladas, aquelas que não são físicas. Não é porque ele não te bate ou nunca encostou a mão em você que ele não pode ser abusivo. Você merece respeito e muito amor, então não pense que “não é tão ruim assim” ou que você vai ficar sozinha se terminar, liberte-se. (coloquei as palavras referentes ao abusador no masculino e referente à abusada no feminino porque a maior parte dos relacionamentos abusivos são assim, mas nada impede que no seu caso seja diferente).

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  1. Conheci esse canal há pouquíssimo tempo, ainda não vi todos os vídeos, mas gostei bastante, a Nátaly fala de diversas coisas e fala bastante de empoderamento negro. Acho ótimo porque eu, como pessoa branca, nunca sofri racismo e acho importante ouvir as negras pra tentar entender melhor e me reconstruir sempre.

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  1. Esse texto me chamou atenção desde o título e é bem pequeno, super rápido de ler. Fala um pouco sobre o viés político da vida, de como a partir do momento que você toa consciência de diversos problemas no mundo, você passa a não compactuar mais com diversas coisas super aceitas e se torna a chata, a politicamente correta. A gente vê, diz e faz tanta coisa preconceituosa todos os dias, que se você começar a reparar nisso, com certeza será a chata que fica de mimimi e se vitimiza. Sorte que eu nunca tive problemas em ser chata.

Deixem nos comentários textos, vídeos, coisas que você viu por aí e merecem ser compartilhados.

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Beijos

recado

Refletindo – tudo é política

Oi gente,

Vou começar o post de hoje com uma história real.

Quando eu era criança, um dos sonhos da minha vida era ser escritora (e fazer nado sincronizado também) e me lembro de uma vez que, conversando com a minha mãe sobre músicas e época da ditadura eu defendi o direito de ser neutro, de, mesmo na ditadura, fazer música sem política. Mas aí ela disse que isso não existia, que sempre nos posicionamos. Na época eu não concordei, pra mim era perfeitamente razoável eu me abster, falar sobre outra coisa e não tomar posição.

Mas com o passar do tempo entendi completamente minha mãe e hoje concordo com ela (e ela nem deve lembrar dessa conversa). A questão é que o tempo inteiro a gente faz escolhas e quando decidimos falar, escrever ou apoiar alguma coisa, tem outra (ou outras) das quais não estamos falando, escrevendo ou apoiando. E essa escolha é uma coisa política.

Nem sempre política está ligado a um partido, eleições ou aos políticos. A nossa opinião sobre as coisas e nossas ações em relação a essas coisas é política, então a gente está o tempo inteiro fazendo política e acho importante a gente se conscientizar disso. Quando o casamento homoafetivo foi legalizado em todos os EUA muitas pessoas trocaram as fotos do perfil do facebook, agora outras colocaram um filtro contra a PL5069, há algum tempo houve uma troca de sobrenomes para Guarani Kaiowá, enfim, uma infinidade de coisas. Tudo isso são manifestações de apoio e indicam um posicionamento, uma posição política. E não participar de nenhuma delas é também uma posição.

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Se vestir também pode ser político, nosso estilo muitas vezes passa opinião, o que pensamos sobre moda, consumismo, como queremos nos mostrar pro mundo.

Claro que existem milhões de formas de se posicionar, não é porque não coloquei o arco-íris na foto que eu não apoio a causa ou acho menos importante, mas temos que lembrar que se posicionar ou não faz diferença sim.

Em geral a gente tem as pessoas que estão satisfeitas com a situação atual e que se privilegiam dela, os opressores, e aquelas que querem mudar as coisas, os oprimidos. Claro que nem toda situação de mudança é assim, mas nos casos que eu citei (ditadura, homofobia, machismo, racismo…) é o que vemos. Nesses casos existe um lado mais poderoso, o lado que está no poder e que não quer mudanças e o outro lado, que luta por mudanças.

“Ok, mas eu não quero lutar por essa causa, não quero me posicionar ou falar dela”. O problema quando a gente não fala nada é que a gente acaba fortalecendo o lado dos opressores. Lembra que os opressores não querem que o sistema mude? Então, não falando nada, não se posicionando, a gente acaba fazendo exatamente o que eles querem. Por isso todo ato, todo discurso é político.

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Caso de racismo bem recente, Taís não deixou de se posicionar contra, isso é uma atitude política. Foto: http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/203355/Taís-Araújo-é-atacada-com-comentários-racistas-no-Face.htm

Por isso eu comecei a fazer esses posts de refletindo aqui no blog, porque não quero estar do lado do opressor. Vou continuar falando de cabelo, maquiagem, viagem, fotografia, livros e tudo mais? Claro, mas quero também usar minha voz (mesmo sendo baixinha) pras causas que eu acredito. Por isso eu gosto tanto dos blogs que também se posicionam e que usam a voz, o alcance todo pra tratar de assuntos importantes.

Não tem jeito, quanto maior a sua visibilidade, mais pessoas suas atitudes vão alcançar. Então temos sim que prestar atenção no que a gente fala, e quanto maior o público, mais atenção. Uma coisa é eu falar uma besteira entre alguns amigos, outra é eu ser professor e falar a mesma besteira pra turma inteira ouvir. É diferente também um canal do Youtube com 100 mil, 500 mil, um milhão de inscritos, ou mesmo um ator/ atriz na televisão. A gente tem que sempre pensar antes de falar, mas quanto maior nosso público, quanto maior nossa influência, mais a gente tem que tomar cuidado.

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Tatuagem em lugares visíveis do corpo também querem dizer que você não concorda que a tatuagem deve ficar escondida e que você não vai se submeter a isso. Foto: http://starchanges.com/kat-von-d-celebrity-plastic-surgery/

Isso quer dizer que nunca vamos falar besteiras e nos arrepender? Claro que não. Mas percebeu que disse algo ofensivo, preconceituoso, pede desculpa e não repete. E use sua voz, seu corpo, seu espaço para lutar as lutas com as quais você se identifica.

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Beijos

Refletindo – Primeiro assédio

Oi gente,

Ainda tô encontrando um pouco de dificuldade de acertar meus horários com a vida nova no Rio, então vou postando como der, realmente espero conseguir me organizar e tirar um tempo pra escrever os posts da semana e organizar tudo com antecedência, mas nem sempre vai ser possível.

Vim hoje escrever sobre um tema que pra mim é muito importante. Faz um tempinho que as redes sociais estão cheias da #primeiroAssédio, acho que todo mundo deve ter visto. Pra quem não tem redes sociais e não viu vou tentar resumir a história. Existe um programa tipo um reality show de culinária chamado Master Chef, é uma competição pra ver quem cozinha melhor. Tem os participantes e os jurados, os participantes vão sendo eliminados e sobra um. Pois bem, há pouco tempo começou uma nova versão, o Master Chef Junior, onde crianças cozinham. Eu nunca vi (não tenho TV, lembram?), mas logo comecei a ver pessoas denunciando comentários asquerosos de homens relacionados a uma das participantes, Valentina, de 12 anos.

Bom, aí o coletivo feminista Think Olga, motivados pelo enorme assédio que a criança estava sofrendo criou essa #PrimeiroAssédio, na qual mulheres relatam sobre a primeira vez em que foram assediadas. Vi alguns relatos no meu Facebook de amigas ou amigas de amigas contando suas histórias ou comentando toda a história.

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Tema de redação do ENEM

Aí logo depois veio a prova do ENEM que botou o feminismo em pauta para mais de 7 milhões de estudantes, tanto na parte das questões objetivas, trazendo Simone de Beauvoir, quanto na redação, refletindo a respeito da violência contra as mulheres. E vi muita gente reclamando do tema, falando que era assunto de esquerda ou que o ENEM estava obrigando a ter um posicionamento.

Desde que o ENEM existe ele sempre direcionou um posicionamento, desde muito antes de existir o SISU nas regras sempre esteve escrito que o candidato não poderia se posicionar contra os direitos humanos e tinha que colocar alguma proposta de como resolver os problemas. As regras não mudaram, não pode se posicionar a favor da violência contra a mulher porque isso seria contra os direitos humanos, simples.

Mas confesso que me choca a pessoa ser claramente a favor da violência contra a mulher a ponto de reclamar da redação. Então agora não posso defender que bater em mulher é bom? Não, não pode, isso não tem nada a ver com comunismo nem com ser de esquerda. A cada 4 minutos uma mulher sofre alguma violência apenas por ser mulher, isso é muito sério. A maioria das mulheres que conheço já sofreu algum tipo de violência, é só olhar de novo essa #PrimeiroAssédio, mesmo sabendo que muitas delas preferiram não se pronunciar, seja por não querer, seja por não conseguir.

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Cartilha sobre a lei Maria da Penha, seu relacionamento é abusivo?

O fato é que temos sim que falar no assunto, temos que falar muito, discutir muito pra mudar esse quadro, eu sou mulher e não quero ter medo de andar na rua, não quero ter que escolher um short ou saia mais comprido porque vou passar por um lugar meio estranho, não quero ter medo a cada homem que passa por mim de noite ou em lugar deserto, não quero ser obrigada, cada vez que saio na rua, a ouvir cantadas ou receber olhares, não quero ser obrigada a dizer que tenho namorado apenas porque não quero ficar com alguém (não de mulher nunca vale, só vale se entra outro homem no meio). São tantas coisas que eu poderia ficar horas falando aqui, mas vou deixar que vocês completem com tudo o que já passaram.

Se você nunca passou por nada disso, quase certeza que não é mulher, então te aconselho a fazer o seguinte: primeiro a ouvir as mulheres a sua volta (é, seu papel agora é só de ouvir) e depois a se questionar, questionar suas atitudes e dos outros a sua volta, conversar, desconstruir e agir sempre que ver uma violência.

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Nada é desculpa para a violência ou o relacionamento abusivo! Fonte: http://www.desocupadaeamae.com.br/2015/02/27/voce-esta-num-relacionamento-abusivo/

O post demorou pra sair, mas consegui falar um pouco do que penso, divide seus pensamentos também aqui nos comentários.

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Beijos